10 anos do Guia Alimentar para a População Brasileira

Por Mariana Claudino

Você conhece o Guia Alimentar para a População Brasileira? A edição mais recente deste documento importante, considerado uma preciosidade por pessoas ligadas às políticas públicas, foi lançada há exatos 10 anos, em 2014. A iniciativa foi uma parceria do Ministério da Saúde em parceria com o Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) e teve o apoio da Organização Pan Americana da Saúde (OPAS). Este ano, a primeira década do Guia tem sido comemorada e celebrada em todo o Brasil. Pesquisadores internacionais elogiam o nosso Guia Alimentar e destacam, inclusive, que ele é um dos melhores do mundo. E por que esse documento, que está disponível gratuitamente na internet para quem quiser ler, é tão relevante?

Além de ser de fácil entendimento, o Guia inova ao defender que a alimentação é mais do que ingestão de nutrientes: se baseia fortemente na educação alimentar e, além do que a pessoa come, traz a classificação denominada NOVA, que frisa que a extensão e o propósito do processamento a que alimentos são submetidos determinam não apenas seu conteúdo em nutrientes, mas outros pontos com potencial de influenciar o risco de obesidade e de várias outras doenças relacionadas à alimentação. O documento também destaca as escolhas alimentares (qualidade) e não as porções (quantidades) de alimentos, além da importância de comer em companhia, como um ato social, e em ambientes adequados.

Antes do Guia trazer a NOVA, os alimentos eram classificados de forma resumida, através da pirâmide alimentar, independentemente do seu processamento. Tanto grãos de cereais quanto “cereais matinais”; macarrão de sêmola de trigo e macarrão “instantâneo” eram considerados fontes de carboidratos. Na verdade, são, mas há uma grande diferença entre eles. Assim como carne fresca, carne salgada e embutidos eram classificados como fontes de proteína – além de leite, queijos e bebidas ou sobremesas lácteas. Todos classificados de forma simplista por grupos, apesar da diferença entre o processamento entre eles.

 

 

Daí veio 2014 e, com ele, o Guia, que mostrou a importância da classificação NOVA com seu amplo fundamento científico. O documento organiza os alimentos em quatro categorias:

Grupo 1 – Alimentos in natura ou minimamente processados: os in natura são aqueles que temos acesso da maneira como ele vem da natureza, como frutas, verduras, tubérculos, raízes, ovos, leite, músculos, cogumelos e algas; já os minimamente processados são os que precisam de algum processamento ou alteração (limpeza, moagem, secagem, refrigeração, entre outros) antes de chegar ao consumidor final, mas sem adição de ingredientes ou transformações que o descaracterizem. Entre eles: arroz, feijão, farinha de mandioca, leite, carne. Estes processos aumentam a duração e facilitam o consumo dos alimentos sem alterar substancialmente suas principais características. O Guia defende que a base da nossa alimentação deve ser feita por este primeiro grupo.

Grupo 2 – Ingredientes culinários processados: são substâncias extraídas de alimentos do primeiro grupo: azeite (obtido de azeitonas), manteiga (obtida do leite), açúcar (obtido da cana ou da beterraba) ou diretamente da natureza, como o sal marinho.

Grupo 3 – Alimentos processados: composta por itens do Grupo 1, mas modificados por processos industriais relativamente simples e que contam com a adição de uma ou mais substâncias do segundo grupo, como sal, açúcar e gordura. O Guia defende que seu uso deve ser limitado: se consumidos em pequenas quantidades e como parte de refeições baseadas em alimentos do primeiro grupo, são compatíveis com uma alimentação equilibrada nutricionalmente e saudável. Mas frisa que conservas de legumes, compota de frutas, peixes entalados, queijos e pães que levam gordura vegetal hidrogenada em seus ingredientes, por exemplo, podem alterar de modo desfavorável a composição nutricional dos alimentos dos quais derivam. Aqui, é importante consultar o rótulo dos alimentos para dar preferência àqueles com menor teor de sal ou açúcar.

Grupo 4 – Alimentos e bebidas ultraprocessados: devem ser evitados, já que suas formas de produção, distribuição, comercialização e consumo afeta, de modo desfavorável a cultura, a vida social e o meio ambiente. A fabricação destes alimentos, feita por indústrias de grande porte, envolve diversas etapas e técnicas de processamento e muitos ingredientes, como sal, açúcar, óleos e gorduras de uso exclusivamente industrial. São nutricionalmente desbalanceados Entre os alimentos deste grupo, estão cereais açucarados, bolos e misturas para bolos, produtos congelados e prontos para aquecimento coomo pratos de massas, pizzas e hambúrgueres, extratos de carne de frango ou peixe empanados do tipo nuggets, iogurtes e bebidas lácteas adoçadas e aromatizadas, pães do tipo bisnaguinha, para hambúrguer ou hot dog.

Com isso, um macarrão, por exemplo, é mais do que apenas “carboidrato”. O macarrão instantâneo, é frito e com um tempero altíssimo em sódio em seu pacotinho prateado; completamente diferente do macarrão convencional, que é minimamente processado.

Estudos mostram que o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado à pandemia de obesidade e de outras doenças crônicas que afetam o planeta. Favorecem o consumo excessivo de calorias, já que “enganam” os dispositivos de que nosso organismo dispõe para regular o balanço de calorias. Como consequência, quando consumimos alimentos ultraprocessados, tendemos, se perceber, a ingerir mais calorias do que necessitamos. Além disso, estes alimentos podem comprometer mecanismos que sinalizam a saciedade, como hipersabor, tamanhos gigantes de embalagens e recipientes, sem contar que a maioria deles é produzida para ser consumida em qualquer lugar e sem a necessidade de pratos e talheres, muitas vezes em frente à televisão, na mesa do trabalho ou andando na rua.

Em tempos de dietas da moda, a classificação do Guia valoriza uma alimentação balanceada, saborosa e culturalmente apropriada. Destaca hábitos culturais do nosso país, como um prato com arroz com feijão, por exemplo. Tudo isso tem impacto direto em políticas públicas de nutrição e saúde no Brasil. A influência do Guia chegou a outros países: ele foi inspiração para publicações análogas em países como Uruguai, Canadá, Peru, Equador e Israel.

A regra de ouro do Guia Alimentar para a População Brasileira é: prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados. Para acessar e baixar o Guia Alimentar para a População Brasileira, clique aqui:

E desembale menos e descasque mais! Sua saúde agradece.

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